Nossa decisão em servir ao Senhor fielmente talvez não agrade nossos contemporâneos, e até mesmo as pessoas mais próximas.
1. Seu Nome
Nas
Escrituras, o nome indica a essência da natureza e personalidade da
pessoa, o íntimo do portador, sua índole e missão (ver Nabal, 1Sm 25.25)[1].
Deste modo, embora saibamos pouco sobre Elias, a definição de seu nome
designa algumas características de seu caráter e devoção. Elias é
abreviação grega de dois nomes divinos hebraicos, El (Deus) e Yahweh
(Senhor). No hebraico Eliyyahu significa “Deus é meu Senhor” ou “Yahweh é
meu Deus”. Nome muitíssimo apropriado para o contexto religioso no qual
o profeta é chamado a exercer o ministério. Enquanto muitos sacerdotes e
profetas do Senhor foram mortos ou se refugiaram em locais secretos,
Elias desponta como a testemunha fiel cujo nome testificava acerca da
soberania do Senhor sobre ele e Israel. Apesar de Baal e sua consorte
serem reverenciados sob os auspícios do rei Acabe (hb. “irmão ou igual
ao pai”) e da rainha Jezabel (hb. “casta”), ao se pronunciar o nome
Elias, de um modo ou de outro, se afirmava o seu significado – um modo
de não se esquecer quem de fato é o Deus de Israel. O significado do
nome Elias atesta que seu portador era um servo fiel e convicto da
soberania de Yahweh. Ele escolheu ao Senhor como o seu único Deus. Isto
já era suficiente para provocar a indignação da nação idólatra e
perversa.
Nossa
decisão em servir ao Senhor fielmente talvez não agrade nossos
contemporâneos, e até mesmo as pessoas mais próximas. Com amor,
entretanto, devemos mostrar que nossa fidelidade a Deus não nos afasta
das pessoas que amamos, mas também tem a força e o poder de nos achegar
àquelas que nos detesta. Mas há momentos em que devemos ser firmes
contra o pecado, a idolatria, aos falsos deuses, ao orgulho e às
injustiças sociais contra os pobres e fracos. Elias era esse tipo de
homem. Seu nome assim dava testemunho de sua decisão em servir ao único
Deus verdadeiro, assim como o seu caráter e santidade confirma a obra do
Espírito em sua vida.
2. Sua Origem
O
cronista afirma que Elias era “o tisbita, dos moradores de Gileade”
(1Rs 17.1; 2Rs 1.7,8). Nada é dito de seus pais e parentela, assim como
Melquisedeque (Gn 14.8; Hb 7.3). Provavelmente procedia de família tão
simples e sem importância histórica para Israel que o literato dispensou
tais informações. Todavia, o artigo (“o tisbita”) descreve duas
características importantes. Primeiro, designa-o como a personagem mais
singular da região de Tisbe. Segundo, diferencia-o de outros três Elias
mencionados na Bíblia:
a) Elias, líder de uma das famílias do clã de Benjamim [1Cr 8.27];
b) Elias, sacerdote que havia casado com mulher estrangeira na Babilônia [Ed 10.21];
c) Elias, um filho de Elão [Ed 10.26]).
Pode
haver muitos nomes iguais no mundo, mas Deus conhece cada pessoa
particularmente. O nome Moisés era um nome muito usado entre os
egípcios, mas Yahweh conhecia intimamente apenas um.
Apesar
de poucos sabermos sobre a localização de Tisbe, o autor a situa na
região de Gileade – uma região montanhosa da Transjordânia[2]
ou do lado leste do rio Jordão. Charles Pfeiffer afirma que Tesbe
“ficava em Gileade, entre os rios Jarmuque e Jaboque na Transjordânea”[3].
Assim:
Para Deus não importa nossas origens;
Para Deus pouco interessa nossos antepassados;
Para Deus o teu sobrenome não é importante;
Para Deus a casa que tu moras, o carro que andas e a roupa que usas não intervém
Ele quer que você apenas se disponha, como Elias se dispôs.
Pode-se
saber um pouco mais dos hábitos e características físicas de Elias a
partir de Gileade. Em termos gerais, Gileade “ia desde o lago da
Galileia até a extremidade norte do mar Morto, medindo cerca de 97 km de
comprimento e 32 km de largura”[4].
A terra árida e de intenso calor exigia a presença de pessoas austeras,
rudes, musculosas, queimadas pelo sol, fortes, persistentes. Charles Swindoll afirma que Elias tinha muita relação com sua terra: hábitos que beiravam o grosseiro e o áspero, o violento e o severo[5].
Obviamente, a situação empedernida de Israel exigia a presença de um
bate-estaca como Elias em vez de um profeta palaciano como Isaías; de um
homem rude do campo em vez de um cidadão educado da polis. Ele é um
profeta para momentos de crise sem igual na história de um povo. A forma
rústica como João, o Batista, se vestia, e o tom grave e direto de suas
palavras lembraram aos seus ouvintes do ministério de Elias (Mt 3.1-12;
11.7-14).
3. Seu Caráter
Elias
era uma pessoa cujo caráter fora forjado no calor escaldante da
Transjordânia e dificuldades do chão pesado e cru de Tisbe. De sua
história identificamos alguns traços de seu caráter: coragem, zelo, fé e
perseverança.
a)
Coragem. A coragem é uma energia moral que nasce e se fortalece diante
do perigo. Enquanto muitos veem o perigo e recua, o corajoso avança e o
enfrenta. Ninguém questiona aquele que evita o perigo para salvar a
própria vida. A prudência e a sabedoria até exigem isto. Mas o corajoso é
impulsionado a agir quando todos recuam. É imperativo que ele vá; não é
imperativo que ele fique. Elias dirigia-se à casa real ciente dos
perigos, no entanto, anunciava a verdade que Israel precisava ouvir. Ele
convoca os profetas e sacerdotes de Baal para um teste decisivo. É
lamentável que hoje tenhamos tantos profetas palacianos e tão pouco
Elias. Profetas que desejam agradar ao rei em vez de apontar-lhe o
caminho. Líderes recolhem em sua intimidade profetas que interpretam
seus sonhos e profetizam somente o que lhes agradam. Onde estão so Elias
de Javé?
b)
Zelo (1Rs 19.10). O zelo é uma dedicação ardente, o cuidado, diligência
e desvelo com que assumimos e colocamos em ação em nossas
responsabilidades.
Elias zelava pela santidade do Senhor e pureza de Israel. Seu ardente
cuidado o tirou de sua terra e família, pondo-se em perigo diante do rei
idólatra. Mas a verdade precisava ser dita. Os profetas de Baal
desafiados e Yahweh triunfando sobre as falsas divindades cananeias.
c)
Fé (1Rs 17.1; Tg 5.17,18). Nesse contexto, é crer que Deus é capaz de
realizar sob nossas palavras ações sobrenaturais. O impossível se torna
possível quando estamos na relação certa com Deus.
d)
Perseverança. É uma qualidade moral mediante a qual a pessoa se mantém
firme e constante diante das dificuldades. Disse certo autor que a
perseverança não é uma qualidade que se improvisa ao capricho da
necessidade, mas brota de uma vontade férrea, adestrada na escola do
trabalho e do sofrimento[6]. Elias assim permaneceu diante das agruras enfrentadas em seu ministério. Apesar dos desafios, permaneceu firme.
4. Seu Ministério
Elias
era profeta. Nesta qualidade era chamado de ish ha Elohim, homem de
Deus. Ele falava em nome e no lugar de Deus, como designa a etimologia
do vocábulo. Os termos hebraicos para profeta designavam uma pessoa que
entrava em estado de ebulição e despejava palavras proféticas e tinha
visões da parte de Deus. Esses profetas eram de duas categorias: os da
escrita; e os orais. Da primeira, Isaías é considerado o maior, e, da
segunda, Elias. O profeta da escrita ocupava-se em registrar
pacientemente suas profecias nos rolos. O profeta oral, nada escreveu.
Elias era assim um profeta de ação e consequentemente de milagres. Não
era treinado nas escolas de profetas; não possuía ascendência que lhe
autorizasse assumir tal função. Contudo, era chamado, vocacionado. E a
chamada, amigo leitor, é uma ferida incurável. Ela não sara, não
cicatriza, permanece sempre aberta. O tempo passa e ali está ela,
aberta, incurável aguardando o momento de dizermos: Eis-me aqui,
envia-me a mim. Não queres obedecer a Voz?
Kharis kai eirene
Esdras Bentho